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pH Conectado a Você | Daniel Becker

By 08/07/2020agosto 29th, 2022pH Conectado a Você

pH Conectado a Você – Infância, saúde e natureza

No início de 2020, traçamos um objetivo claro: fortalecer ainda mais a parceria família-escola por meio de um espaço voltado ao diálogo sobre temas atuais e relevantes, presentes em nosso cotidiano enquanto familiares, responsáveis e, principalmente, cidadãos.

Sob essa proposta, demos as boas-vindas ao nosso primeiro pH Conectado a Você deste ano, que contou com a presença do pediatra e sanitarista Daniel Becker para relembrar a importância das saúdes física e emocional, principalmente em tempos de pandemia.

”Muito importante conversar sobre Convivência Ética. Vivemos em uma época de pouca convivência e de pouca ética.”

  • A importância da Convivência Ética

Para abrir a conversa, mediada por nossa professora Camilla Oliveira, Becker destacou a presença das aulas de Convivência Ética no dia a dia de nossos estudantes, a partir das quais aprendem a pensar o sujeito não só como do intelectual e do cognitivo, mas também do simbólico, do afeto e do social.

”Uma escola que coloca a Convivência Ética como parte do currículo é uma escola que está atinada com o seu tempo, que, hoje, se faz mais do que nunca necessária”, disse ele, acrescentando que trabalhar as múltiplas dimensões individuais é fundamental para uma formação integral de seres aptos lidar com a complexidade dos desafios do século XXI.

Como, então, manter essa proposta pedagógica em um momento de crise sanitária global? Não tem sido fácil, é verdade, especialmente após meses isolados em casa. O lugar que, antes, para muitos, era um refúgio de descanso após um longo dia de trabalho tornou-se cenário de coexistência entre trabalho, família, lazer e outras atividades, o que pode gerar sobrecarga, estresse e inseguranças.

  • Como aliviar a tensão?

Becker alertou sobre sinais de mudanças comportamentais que podem ser desencadeadas durante o período de pandemia, destacando que, independentemente da idade, crianças e adolescentes expressam suas angústias das mais diversas formas, sem necessariamente as verbalizar.

”Eles vão ficar mais deprimidos, mais tristes, introvertidos, isolados, solitários, sedentários, entregues à TV, às redes (sociais). Isso vai gerando um pensamento depressivo ou até de autolesão”, alerta o pediatra.

Para atenuar a tensão, Becker sugere realizar atividades físicas e criar uma rotina minimamente organizada, embora flexível. ”A refeição, tradicionalmente, é o momento de diálogo, de convivência. Convivência em torno da mesa é uma tradição humana mais que milenar”, afirmou.

O pediatra também recomenda que esse momento não seja interferido por celulares e outros aparelhos eletrônicos,
afinal, “olhar olho no olho faz parte desse vínculo fundamental”.

De acordo com o pediatra, estamos convivendo de forma inédita.  ”A convivência com os pais era praticamente zero. De uma hora, meia hora por dia… de repente, 24 horas. Isso, por um lado, é maravilhoso, porque produz intimidade. A intimidade entre pais e filhos enriquece o vínculo. (…) Essa intimidade permite que as crianças tenham seu desenvolvimento muito exacerbado, muito melhorado com a convivência com os pais”, afirmou.

  • Inteligência Emocional

Essa proximidade também é ideal para desenvolver outra competência essencial: a inteligência emocional. Ao acolher os sentimentos das crianças e dos jovens, fazemos com que eles entendam suas emoções, criem consciência sobre elas e encontrem canais adequados para expressá-las, afinal, não controlamos sentimentos, mas sim como
reagimos a eles.

”A gente esquece que as crianças são pessoas, e a gente deve tratá-las como tal. A gente tem que permitir que ela fique com raiva, apoiá-la nesses momentos, permitir que ela fique triste, consolá-la nesse momento. Expressar suas emoções e permitir que a gente sinta as emoções é fundamental. A gente tem que saber diferenciar as ações das emoções. A criança tem direito de ter momentos difíceis e momentos mais felizes”, explicou Becker.

Enquanto mediava a conversa, nossa professora Camilla Oliveira pontuou que as frustrações adultas são diferentes das infantis e, por isso, não podemos compará-las ou medi-las, e sim respeitá-las e legitimá-las.

”Os sentimentos difíceis fazem visitas e a gente precisa abrir a porta e deixar que eles nos visitem. O importante é que, ao longo do tempo, a gente não permita que eles façam morada’‘, completou Camilla.

Becker acrescentou, ainda, que a pandemia, de certa forma, representa um momento de pausa, no qual é necessário
reavaliarmos nossa caminhada e as mudanças que a situação trouxe consigo, atuando perante três principais ensinamentos: autonomia, solidariedade e adaptabilidade. Mais que individualmente, esse processo reúne toda a comunidade escolar.

”Quem trabalha com educação não só tem que ter esperança, como também representa a esperança”, afirmou o pediatra.